Do tabuleiro para o mundo digital

É importante que um Game Designer conheça sobre as mecânicas dos jogos de tabuleiro, principalmente porque estes foram, e são, fundamentais no surgimento de muitos dos jogos digitais que temos hoje em dia para PC e também para videogames.

Jogos de tabuleiro são maravilhosos, e em sua grande maioria possuem mecânicas muito ricas, principalmente os jogos modernos. Vale aqui uma breve diferenciação dos jogos clássicos/tradicionais para os modernos.



Os jogos clássicos (dama, xadrez, gamão, etc) são aqueles sem um autor/criador definido, com regras que sofreram alterações com o passar dos anos. Já os jogos modernos possuem um ou mais autores/criadores, um enredo (as vezes abstrato) e regras definidas que sofreram poucas alterações, ocorridas normalmente com as expansões vendidas posteriormente para ampliar o jogo.

Dentre estes jogos modernos existem os recentes, principalmente a partir dos anos 90. Tais jogos recentes possuem basicamente duas ‘escolas’, a americana, geralmente com regras mais simples, e a alemã, em sua maioria com regras mais desenvolvidas e maior estratégia envolvida. Em outra oportunidade irei escrever mais sobre estes jogos modernos recentes e suas características.

O que gostaria de destacar neste momento é que estes jogos possuem uma diversidade enorme de mecânicas, tais como gerenciamento de recursos, outros com administração de pontos de ação, aproveitamento estratégico do tabuleiro, alguns contam com um grau maior de sorte, outros com um mínimo de sorte envolvida. A diversidade é tão grande que os principais portais na internet de jogos de tabuleiro sempre possuem diversas sub-categorias quanto à mecânica dos jogos. Você pode conferir isso no site GameboardGeek.

E desta riqueza dos novos jogos é que surgiram muitas idéias para os atuais jogos digitais de estratégia. O jogo de tabuleiro The Settlers of Catan (versão em português: Os descobridores de Catan;), por exemplo, foi um dos principais precursores e inspiradores dos games de computador de estratégia na metade dos anos 90. Basicamente, os jogos digitais utilizaram a mesma mecânica de obter recursos e usar estes recursos para evoluir no jogo. A estratégia de cada jogador passaria a ser diferente dentro das suas possibilidade de captação dos recursos e seu uso posterior.

Já no âmbito dos jogos vivenciais, os RPGs também tiveram seu início em jogos de tabuleiro, com uso de personagens. Na época, não se exigia tanto a interpretação dos participantes, uma vez que tudo era ainda baseado em uso de um tabuleiro e peças sobre ele. Os jogadores tinham um personagem cada um, que era representado por uma peça no tabuleiro e um cartão que descrevia as suas habilidades e característica. Porém a interpretação de cada personagem naturalmente foi sendo incorporada pelos jogadores. Este fato aliado com as mudanças na mecânica fizeram nascer os primeiros RPGs de papel e lápis, onde não eram mais necessários tabuleiro, peões ou cartas. Apenas dados e interpretações.


Em seguida, o RPG também começou a ser desenvolvido em jogos digitais, com uma mecânica mais próxima da época dos RPGs de tabuleiro do que propriamente dos RPGs mais atuais, de interpretação de papéis.

Como se pode perceber, muito do que temos em jogos digitais hoje em dia tiveram sua origem no uso por parte do Game Designer de elementos dos jogos de tabuleiro. Não tanto em relação ao enredo, mas principalmente em relação aos princípios das mecânicas utilizadas.

De uma forma em geral, os jogos digitais são criados pelos Games Designers a partir de um dos três princípios a seguir:

– A partir de uma idéia de mecânica nova, totalmente oriunda do universo e da mecânica digital.

– A partir de uma mecânica já existente em outros jogos digitais (este é o caso que mais ocorre).

– A partir de uma idéia de mecânica oriunda do universo dos jogos de tabuleiro.

E eu arrisco a dizer que mesmo a primeira opção, uma idéia oriunda do universo digital, traz com ela princípios da mecânica de jogos de tabuleiro.

Perceba que eu digo ‘princípios’ da mecânica e não a mecânica em si, pois esta é, evidentemente, diferente dependendo do tipo de jogo (tabuleiro, vivencial ou digital). Mas os princípios são basicamente os mesmos e em sua maioria, provenientes dos jogos de tabuleiro.

Por isso é importante ao Game Designer conhecer da mecânica dos jogos de tabuleiro. Não que isso seja um requisito para se tornar um ótimo Game Designer, pois existem vários outros fatores que fazem de um game, um grande sucesso. Mas para a própria criação, principalmente a elaboração de mecânicas novas, é importante sim esta base de conhecimento do universo do tabuleiro.

Nos próximos posts eu pretendo citar exemplos de como os princípios da mecânica dos jogos de tabuleiro podem ser usados pelo Game Designer nos demais tipos de jogos, não apenas para os fins de entretenimento, mas também para educação e treinamento.

[Atenção: infelizmente muitos dos meus artigos estão sendo copiados ilegalmente por outros sites/blogs. Em alguns casos os donos de tais sites/blogs se colocam como autores dos textos. Um total absurdo e falta de ética. Peço por favor que se você encontrar este artigo ou parte dele em outro site, me informe através do meu e-mail de contato, no final da página ‘sobre mim‘. Muito obrigado.]

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1 respostas para Do tabuleiro para o mundo digital

  1. Daniel Alves disse:

    Muito bom o tópico. Estou planejando um jogo e realmente tirar como base os jogos de tabuleiro tem um ótimo fundamento.
    Obrigado pela idéia.

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